Por Felipe Maciel
Projetada na cena literária nacional com o best-seller “A casa das sete mulheres” (Bertrand Brasil), obra traduzida em diversos idiomas e adaptada pela TV Globo para uma minissérie de grande sucesso, além de vencedora do Prêmio Jabuti com o livro infantil “Era outra vez o gato xadrez” (Record) e autora de uma obra extensa, a escritora gaúcha Leticia Wierzchowski completa 25 anos de carreira em 2023.
Seu romance mais célebre, no qual narra a guerra particular travada por personagens femininas durante a Revolução Farroupilha, completou em 2022 duas décadas de publicação e acaba de ganhar pela Maralto uma edição em quadrinhos, ilustrada por Verônica Berta.
Mas o trabalho criativo se desdobra em outras facetas. Escreveu um roteiro sobre Maria Bonita e, inspirada em um romance de Anna Mariano, desenvolveu outro roteiro em parceria com Diego Miller e a própria Anna ariano para um longa-metragem que será dirigido por Thiago Lacerda, com assessoria do Werner Schünemann.
No campo literário, atua também como professora de escrita criativa e no ano passado publicou dois romances pela editora Planeta: “Deriva” e “Estrelas fritas com açúcar”.
“O balanço é que, apesar das muitas pedras do caminho, eu consegui realizar meu sonho: viver de contar histórias, dar verbos a personagens que inventei, ou a personagens que resgatei do passado. Eu acredito que as histórias curam e nos salvam de nós mesmos – escreve-se para guardar, para lembrar, para esquecer, para se vingar da vida.”, avalia.
Confira a entrevista de Letícia Wierzchowski, em que a escritora faz um balanço de sua carreira literária e conta os planos para o futuro:
1. Em 2023, você completa 25 anos de carreira literária. Olhando em retrospecto, qual o balanço que você faz de sua obra? Quais os momentos mais marcantes da carreira? Quais os livros mais marcantes? E por que é tão difícil manter uma carreira literária tão duradoura no Brasil?
Um balanço da minha obra? Eu sempre me inspirei no Erico Verissimo, que se dizia “um contador de histórias”. Eu sou uma contadora, nem mais, nem menos do que isso. O balanço é que, apesar das muitas pedras do caminho, eu consegui realizar meu sonho: viver de contar histórias, dar verbos a personagens que inventei ou a personagens que resgatei do passado. Eu acredito que as histórias curam e nos salvam de nós mesmos – escreve-se para guardar, para lembrar, para esquecer, para se vingar da vida. Por esta perspectiva, que é muito pessoal, eu sou uma pessoa realizada. A partir disso, fui ganhando leitores…
Fui marcando a vida de outras pessoas, à medida que uma ou outra história que contei fez diferença em suas trajetórias pessoais. Houve momentos marcantes, sim. Obviamente, A casa das sete mulheres foi o mais conhecido. Mas eu não penso esses anos assim… Penso-os mais como uma pequena história (real) sobre Anita Garibaldi. Quando Garibaldi proclama a República Romana, Anita estava em Nizza com a sogra e os filhos, grávida. Mas ela queria lutar. Então, fugiu e venceu estradas caóticas – imaginem a Itália vivendo uma guerra civil, com exércitos de dois países peleando contra os revolucionários. Mas Anita foi e foi e chegou em Roma sitiada. Quando ela entrou no quartel general do marido, um dos seus generais perguntou: “Mas, dona Anita, como a senhora chegou aqui?” E ela: “Eu fui vindo, vindo, e cheguei.” É isso, ir indo, seguir seu caminho, contornando as dificuldades e os “nãos”.
2. O romance A casa das sete mulheres é, sem dúvida, um marco na sua carreira e se tornou também um grande sucesso editorial e também audiovisual. Qual a sua relação com essa obra? Em sua avaliação, por que esse épico histórico alcançou tamanha repercussão e continua ainda hoje marcante no imaginário dos leitores brasileiros?
Quando eu escrevi este romance, sozinha em São Paulo, achei que nem seria editado – parecia uma história tão pacata: 10 mulheres trancadas numa estância durante 10 anos no século 19, mas ele foi um sucesso. Creio que cumpria um papel importante, que era resgatar do silêncio e do vazio a saga feminina – a guerra sempre foi vista como palco dos homens. Guardava também um tanto de paixão – Garibaldi, um grande sedutor, e seus amores. Para mim, foi uma grande alegria ter ido voz a esses personagens, e foi com esse livro que descobri a minha facilidade para lidar, narrativamente, com o pano de fundo histórico.
3. Ainda sobre A casa das sete mulheres, a obra acaba de ganhar em uma adaptação para HQ pela editora Maralto, com ilustrações da Verônica Berta. Como se deu o processo de trabalho para criar essa adaptação? Qual a sua avaliação do resultado do livro? O que os leitores podem esperar?
Adaptação do livro foi feita por mim, e a ideia de transformar a história em HQ também foi minha. Quero que toda trilogia chegue em HQ. Aqui em casa, meus filhos e eu adoramos HQs. O livro acaba de ficar pronto e está lindo demais. Os leitores podem esperar um mergulho na história do livro, mas bem costurado ao imaginário que a série criou.
4. Quais seus planos para o futuro? No momento, você está trabalhando em algum projeto novo? Pode nos adiantar algo?
Eu terminei este ano o roteiro de um longa-metragem sobre a Maria Bonita, companheira de Lampião. E estou trabalhando em um projeto enorme, audiovisual, com o Jayme Monjardim. Este é, portanto, um ano de roteiros na minha vida.