Genêro do Autor: Ensaio e Crítica

Ariano Suassuna

27 de novembro de 2023

Sobre o autor

Um dos maiores nomes da literatura brasileira, Ariano Suassuna nasceu em 1927, em João Pessoa, na Paraíba, e, em 1942, se mudou para Recife, Pernambuco, onde se formou em Direito. Romancista, dramaturgo, poeta e professor universitário, traduzido para vários idiomas, fundou o Teatro Popular do Nordeste e o do Movimento Armorial, em que buscou criar uma arte erudita brasileira com base na tradição popular. Eleito em 1989 para a Academia Brasileira de Letras, Ariano percorreu o país com aulas-espetáculos, que levavam a audiência ao delírio. Faleceu aos 87 anos, em julho de 2014, em Recife, a cidade que elegera para morar a maior parte de sua vida.

Tema de diversos estudos e teses acadêmicas, sua obra inclui romances, novelas e quase duas dezenas de peças teatrais, entre as quais A pena e a lei, de 1971, O santo e a porca, de 1964, e o Auto da Compadecida, de 1957, que seguem sendo simultaneamente encenadas por inúmeros grupos teatrais do país, e cujas adaptações para cinema e televisão obtiveram enorme êxito. A chegada das peças de Suassuna ao grande público não representou propriamente uma popularização de seu trabalho, mas uma consagração de sua popularidade. Se fosse realmente possível sintetizar sua extensa e produção artística, talvez se pudesse dizer que é ela uma síntese universal da cultura popular nordestina.

Em sua obra, Ariano revelava e refazia nexos nada óbvios entre a literatura de cordel das feiras do Nordeste e a literatura medieval portuguesa, ao mesmo tempo, em que reciclava recursos característicos do teatro grego e temas clássicos, sem abrir mão da expressão popular. Formado na escola sertaneja da privação, Ariano era econômico; o luxo de sua erudição sempre soava discreto, em textos limpos, simples, cômicos e invariavelmente comoventes. Lidas e encenadas em escolas de todo o país, as peças de Suassuna pertencem à memória de várias gerações. Suas personagens – santos, cangaceiros, palhaços, donzelas casadoiras, prostitutas, avarentos, ladrões, frades, juízes, vaqueiros e cangaceiros – revivem paixões de todos os tempos e lugares e ganham posto cativo no imaginário do leitor.

Para Suassuna, entretanto, foi no Romance d’a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta (1971), reeditado pela Nova Fronteira em 2017, que sua literatura se apresentou mais acabada e completa. Classificado pelo próprio autor como um “romance armorial popular”, o livro funde mundos, numa espécie de realismo mágico sertanejo, onde diferentes tradições literárias se entrelaçam e as raízes medievais da organização social do sertão surgem, numa representação da própria fusão cultural brasileira.

 


Citações

“Extraordinário romance – memorial, poema, folhetim, que Ariano Suassuna acaba de explodir. Ler esse livro em atmosfera de febre, febril ele mesmo, com a fantasmagoria de suas desventuras, que trazem a Idade Média para o fundo Brasil dos novecentos, suas rabelaisiadas, seu dramatismo envolto em riso.

Ah, escrever um livro assim deve ser uma graça, mas é preciso merecer a graça da escrita, não é qualquer vida que gera obra desse calibre.”
Carlos Drummond de Andrade, poeta e escritor, sobre Romance d’A Pedra do Reino (Nova Fronteira)

 “Ariano buscou a essência da alma e da linguagem do povo que ele conheceu. Misturou sua erudição com o falar e a sabedoria do homem nordestino. Como Cervantes, no meio de sua prosa admirável, colocou versos e poemas muitas vezes cortando o desenvolvimento de suas histórias. Fez uma genial paródia dos romances da cavalaria medieval.”
Carlos Heitor Cony, jornalista e escritor, sobre Ariano Suassuna

“Entremeado, todo o tempo, de símbolos e alusões, de recordações e fantasmas, poço inesgotável de estudos analíticos, livro de cabeceira para psicólogos e sociólogos, esse romance é uma explosão de maravilha. Não há que buscar nele o folclore, o regional, o ocasional, o circunstancial, e sim o universal, o permanente, como em Dom Quixote”.
Carlos Lacerda, jornalista e editor, sobre Romance d’A Pedra do Reino (Nova Fronteira) 

“No caso de Suassuna, a identificação entre o homem e a obra parece tão siamesa que o fluxo popular do seu teatro […] e do seu romance não pode ser acoimado de atitude. Atitudes seriam, e menos graves, certas brincadeiras ou liberdades que o escritor toma em público, com o fito evidente de prolongar em sua pessoa o mito da obra.”
Hélio Pólvora, jornalista, escritor e crítico literário e de cinema, sobre Ariano Suassuna

 “Ariano Suassuna é a prova de que uma cultura vasta e o conhecimento das grandes tradições da arte ocidental parecem ser a melhor base para a criação de uma obra essencialmente brasileira; nascido e criado no nordeste, sua obra dramática foi desde o início influenciada tanto pelo teatro de mamulengos e pela literatura de cordel, quanto por tudo que ele conhecia do teatro universal; e com o tempo Suassuna se dedicou fundamentalmente àquelas expressões de suas origens, integrando-as com as formas eruditas que lhe pareciam ser o melhor caminho para se conseguir estabelecer uma comunicação plena entre a riqueza regional e o total do Brasil contemporâneo.”
Barbara Heliodora, ensaísta, tradutora e crítica de teatro, sobre Ariano Suassuna

 


Leia mais

Texto de Barbara Heliodora sobre Ariano Suassuna em O Globo

Matéria da Folha de S. Paulo sobre o lançamento pela Nova Fronteira do Teatro Completo de Ariano Suassuna

 

Jacques Fux

13 de agosto de 2023

Sobre o autor

Jacques Fux é escritor, pesquisador, professor e tradutor, nascido em Belo Horizonte em 1977. Formado em Matemática, Mestre em Ciência da Computação, Doutor em Literatura Comparada pela UFMG e Docteur em Langue, Littérature et Civilisation Françaises pela Université de Lille 3, na França, foi pesquisador visitante no Departamento de Romance and Languages em Harvard, entre 2012 e 2014. É também Pós-doutor em Teoria Literária pela Unicamp e pela UFMG. Proferiu palestras e deu aulas nas principais universidades do mundo, entre elas Harvard, MIT, Boston University, Cornell, Universidade de Estocolmo e Sorbonne – Paris III.

A relação entre letras e números, que aparentemente pertencem a universos díspares, o inspirou para o doutorado sobre a matemática na literatura do argentino Jorge Luis Borges e do francês Georges Perec. A tese acabou sendo premiada com o Capes de Teses de 2011, e deu origem ao primeiro livro do autor, a crítica literária Literatura e matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o OuLiPo (Tradição Planalto), publicado em 2011. No ano seguinte, estreou na ficção com o bem recepcionado romance Antiterapias, editado pela Scriptum. Era apenas o início de uma promissora carreira como escritor.

 


 

Citações

“Jacques, maravilha! Sabe que o Lacan inverte o cogito cartesiano e diz: “Onde não penso, sou. Onde sou, penso”, em cima do ato falho de Freud. Seu título! Livro lindo. Simples e basal, como tudo que é base. Parabéns”
Maria Homem

“Já peguei e li: uma beleza! Forte, original, corajoso, esse seu exercício de (des)memória. Me fez lembrar o livro de memórias do Luiz Schwarcz, da Companhia, apesar de muito diferente. Ele também é judeu, você sabe. Seu livro, Jacques, tem um ritmo alucinante, que não deixa a gente parar de ler: li de um fôlego só. Obrigado!”
Wander Melo Miranda

“Livro inesquecível, inteligente em todos os momentos: da dedicatória às biografias dos autores! Lindo demais! As epígrafes escolhidas a dedo. Está na minha lista dos dez mais do ano!”.
Dirce Waltrick do Amarante

“Antes que me esqueça, deixa eu te contar que me lembrei que esqueci de te dizer o quanto gostei de lembrar, mas que me esqueci, de quanto gostei desse teu livro – e que também é da Raquel Matsushita, já que não dá para esquecer dela com suas incríveis imagens que lembram muitas paisagens que já tinha me esquecido, se é que as vi alguma vez. Não se esqueça de que me lembrei de você – mesmo quando esquecido da vida. Em tempo: se lembramos apenas o que esquecemos, quando lembrar de se esquecer escreva mais pois sempre adoramos!”
Márcio Seligmann-Silva

“Jacques Fux persegue com sua escrita o locus ausente de sentido, raiz da língua esquecida na ficção do que se diz ser. Eco de um inconsciente real, imemorial. Existo onde não penso, onde não digo, onde não lembro… sou. Assim, o autor nos transporta a outra dimensão, aquela que não se fixa nas páginas da história, um vivido sem sentido, instante da pura existência.”
Fernanda Otoni Brisset – Vice-presidente da Federação Americana de Psicanálise Lacaniana

“Um dos assuntos que mais divertem, e preocupam, os judeus e não judeus em todo o mundo é, sem sombra de dúvida, a loucura do louco — o meshugá que dá título a esse novo romance de Jacques Fux. A maluquice judaica essencial, além de envolver alguns temas clássicos (neurose, hipocondria, mães invasivas e super-protetoras, etc.), também fornece matéria para a ironia autodepreciativa que é a base do humor desse povo. Valendo-se da ficção com mão firme, Fux apresenta um rol de personagens tão geniais quanto desnorteados, histórias que se conformam como pequenas novelas e que são pérolas da insanidade e do ridículo.”
Cintia Moscovich, escritora, sobre Meshugá — Um romance sobre a loucura (Editora José Olympio)

“Jacques Fux fez pela brochada o que Woody Allen fez pela neurose: transformou em assunto que se pode confessar em terceira pessoa, fora do consultório do terapeuta. Literariamente, of course. Coragem, leia!”
Vivian Schlesinger, Juri do Prêmio Jabuti, sobre Meshugá — Um romance sobre a loucura (Editora José Olympio)

“Uma estreia literária a ser considerada pelos riscos que assume e pelo fôlego da proposta a ser desenvolvida, espera-se, em novas versões e ficções”.
Estadão sobre o romance Antiterapias (Scriptum)

 


 

Leia mais

Escritor mineiro entra na cabeça de loucos históricos, matéria de Arnaldo Bloch sobre Meshugá — Um romance sobre a loucura (Editora José Olympio)

O escritor mineiro Jacques Fux investiga a loucura judaica, matéria da revista Época

Entrevista de Jacques Fux para o Programa do Jô sobre Brochadas (Rocco)