Por Felipe Maciel
“História familiar e história coletiva são uma única coisa.” – Annie Ernaux
A epígrafe escolhida por Natalia Timerman para seu novo livro, “As pequenas chances” (todavia), é a síntese perfeita para este romance autobiográfico sobre o luto e a memória. A obra acaba de chegar às livrarias e a escritora dá início em São Paulo nesta quarta-feira, 16 de agosto, a uma turnê de lançamento que passará, ainda, por Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
A morte é uma certeza e, ainda assim, passamos a vida inteira tentando elaborar o fato inoxerável. Antes da nossa própria morte, porém, enfrentamos muitas outras. E como doem. Mesmo que o desfecho seja uma certeza, o tempo do luto não é retilíneo: “mas a morte não passa, ela continua, continua, continua”, escreve a narradora já na primeira página do livro.
No saguão do aeroporto, Natalia se encontra com o médico paliativista que cuidou de seu pai, que havia falecido alguns anos antes. O encontro repentino e fora de contexto a faz rememorar a experiência da perda, uma cicatriz ainda latente e perene.
A partir daí, Natalia reconstitui fragmentos de memórias em um texto fluído, dinâmico e, ao mesmo tempo, denso, que flui como um jorro, pautado por pontos, vírgulas, pontos-vírgulas, modulações e entonações.
E, voltando à epígrafe, ao contar uma história familiar de vasculhamento íntimo, a autora toca o ponto da universalidade das grandes narrativas: o tempo, a vida, a morte, as origens, a família. Um eterno elaborar daquilo que se vive na pele para poder seguir adiante, mesmo diante da dor, até o momento final.