Por Felipe Maciel
Durante a pandemia, Tony Bellotto imaginou uma cena: o dia em que o filho caçula de um grande fazendeiro perderia a virgindade em uma orgia orquestrada pelo pai. A partir daí, começava a surgir “Vento em setembro”, seu 13º romance, que acaba de chegar às livrarias pela Companhia das Letras.
Reconhecido como um dos grandes nomes do romance policial no Brasil, Bellotto extrapola o gênero que o consagrou com um thriller psicológico que trata de identidade, amor, desejo e traumas familiares, tendo como pano de fundo a ditadura militar brasileira.
O livro conta as reviravoltas vividas por Davi, jornalista que investiga uma série de atos de vandalismo em Ouro Preto nos dias atuais e se vê em meio a uma trama que se estende aos confins do interior paulista na década de 1970.
Ao longo da história, Bellotto inclui, ainda, personagens reais que passam pelo livro quase que fazendo pequenas pontas. É o caso da Rita Lee que surge num concerto no Teatro Aquarius, em 1974. De repente, o teatro é invadido pela polícia, algo que acontecia com frequência no período militar, e Rita escapa pelos fundos numa limousine.
Outro personagem, também real, que aparece de relance é Chico Xavier. E tem também uma participação especial do Bechara Jalkh, notório detetive particular dos anos 1970, uma lenda da crônica policial, conhecido como o Sherlock Holmes brasileiro.
“Neste livro, reflito também sobre as pessoas da minha geração, que eram jovens durante a ditadura militar nos anos 1970 e viram o fim do regime, com a retomada da democracia, e, agora, acompanham esses acontecimentos nebulosos, como a tentativa de um golpe antidemocrático no país com apoio de parcela da população.”, avalia o autor.