Sobre o autor
Nascido em São Paulo, em 1916, Paulo Emílio de Sales Gomes foi, como tantos de sua geração, militante comunista na juventude. Entrou para a vida literária ao organizar a revista Movimento, em 1935, com a chancela de Oswald de Andrade. Preso, em 1937, conseguiu escapar do cárcere por um túnel cavado com companheiros de cela. Após esse episodio, partiu para a França, onde se interessou pelo cinema e o socialismo democrático. Na volta ao Brasil, cursou Filosofia na Universidade de São Paulo e escreveu seus primeiros ensaios, hoje considerados antológicos, na revista Clima, com a qual também contribuíram Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza e Lourival Gomes Machado.
Em 1946, ganhou uma bolsa do governo francês e passou os dez anos seguintes na Europa, aprofundando seus estudos em cinema. Lá, as Éditions du Seuil publicaram em livro sua emblemática monografia sobre Jean Vigo, eleita a melhor obra sobre cinema de 1957, de acordo com a Prix Armand Tallier. Paulo Emílio foi um dos principais organizadores da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que se transformou em meados da década de 1950 na Cinemateca Brasileira. Iniciou então uma militância incansável pela preservação da memória cinematográfica, atuando em várias instâncias e publicando diversos artigos na imprensa sobre o tema. A partir dos anos 1960, sua defesa do cinema brasileiro aproximou-o do Cinema Novo.
Em 1961, casou-se com Lygia Fagundes Telles, com quem escreveu Capitu, roteiro para cinema baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis. Em 1964, fundou o curso de cinema na recém-criada Universidade de Brasília e, com a repressão imposta pelo golpe militar, retornou a São Paulo, onde a partir de 1968 foi mestre de várias gerações na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Vítima de um ataque cardíaco fulminante, morreu em 1977, poucos meses depois de publicar Três mulheres de três PPPês, uma sátira à classe alta paulistana narrada em três novelas, que ganhou uma nova edição pela Companhia das Letras em 2015. A Companhia publicou nesse mesmo ano o volume O cinema no século, antologia de textos publicados em jornais e revistas de 1941 a 1970. Na sequência, lançou Uma situação colonial?, reunindo artigos da imprensa, além dos ensaios: Uma situação colonial? e Cinema: trajetória no subdesenvolvimento.
Citações
“O Paulo Emilio transformou o interesse pelo cinema no Brasil no interesse de alta qualidade estética e literária, artística. O Paulo Emilio ensinou às novas gerações a pensar esteticamente, filosoficamente o cinema.”
Antonio Candido, sociólogo, crítico literário e professor universitário, sobre Paulo Emílio de Sales Gomes
“Um livro muito bem documentado; rico em detalhes, anedotas e testemunhos; tão interessante para a história da França da III República quanto para a história de seu cinema; um livro que é o retrato de um homem, de um autor de filmes que estão entre os maiores, e, ao mesmo tempo, o retrato de uma época. Ou seja, esse livro não interessa somente aos especialistas, mas ainda a todos os espíritos curiosos. Esta não é precisamente uma boa definição para ‘o melhor livro de cinema’.”
Association Française des Cinémas d’Art et d’Essai (AFCAE), sobre Paulo Emílio de Sales Gomes
“Em vez de confrontar posições teóricas em voga, prefere se debruçar sobre o filme na moviola. O que o preocupa é o real, o concreto, a obra, o que ela diz sobre o mundo, como o autor fala por seu intermédio. O seu diálogo é sempre uma relação privada com a imagem, cuja palpitação profunda procura acolher com humildade.”
Gilda de Mello e Sousa, filósofa, crítica literária, ensaísta e professora universitária, sobre Paulo Emílio de Sales Gomes
“foi escrito num momento estratégico, quando havia uma geração muito jovem fazendo curtas e que lideraria o Cinema Novo, como David Neves, Paulo César Saraceni, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade. Todos eles foram influenciados por esse texto. De certa maneira, ele faz parte de uma reflexão crítica que tem como desdobramento o Cinema Novo.”
Ismael Xavier, teórico e professor de cinema brasileiro, sobre o ensaio Cinema: trajetória no subdesenvolvimento
“A defesa do cinema nacional por Paulo Emílio não caminha na direção de um purismo nacionalista reciclado, o que certamente teria facilitado a recepção de sua última crítica.”
Folha de S. Paulo, sobre Paulo Emílio de Sales Gomes
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Artigo da Folha de S. Paulo sobre o centenário de Paulo Emílio de Sales Gomes