Sobre o autor
João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, Pernambuco, em 1920. Passou parte da infância nos engenhos de açúcar da família e, aos 10 anos, retornou ao Recife, ingressando em uma escola de Irmãos Maristas. Ainda adolescente, frequentou o Café Lafayette, ponto de encontro da intelectualidade local. Transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1942, ano em que publicou seu primeiro livro de poemas, Pedra do sono. Entrou para o Itamaraty em 1945, e residiu em Barcelona, Londres, Sevilha, Marselha, Madri, Genebra, Berna e Assunção. Promovido ministro de primeira classe, em 1976, foi embaixador no Senegal, no Equador e em Honduras e Cônsul Geral do Brasil na cidade do Porto.
Autor de uma obra poética de forte cunho social, que privilegia a razão e tem como matéria o mundo objetivo, a poesia cabralina é um marco do gênero no Brasil. Considerado o mais forte candidato brasileiro ao Prêmio Nobel, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1968. Em 1987, voltou a residir no Rio de Janeiro e aposentou-se em seguida do Itamaraty. Três anos depois, foi o primeiro escritor brasileiro a receber o Prêmio Camões de Literatura, o mais importante em língua portuguesa. Em 1994, a dor de cabeça que o atormentava há anos foi diagnosticada como sintoma de uma doença degenerativa que o levaria à cegueira. Faleceu no Rio de Janeiro aos 79 anos.
O engenheiro, como João Cabral tornou-se conhecido por seu processo racional e preciso de construção poética, propunha que a poesia fosse resultado de uma atitude objetiva, diante da realidade concreta, uma postura de quem controla racionalmente as emoções, o que em sua obra se expressa por um rigoroso cuidado formal. Na epígrafe de O engenheiro, de1945, cujo tema principal é o próprio fazer poético, o autor, citando Le Corbusier, deixou clara a intenção de sua poesia em ser uma machine à émouvoir. Frequentemente, essa arquitetura prestou-se a erguer uma crítica social contundente. É o caso dos livros, publicados atualmente pela Alfaguara, O cão sem plumas, de 1950, O Rio, de 1954, e o poema longo Morte e vida severina, de 1965, o mais popular de sua obra, que ganhou uma célebre adaptação teatral no TUCA, dirigida por Roberto Freire e musicada por Chico Buarque. Em todos eles, Cabral recriou a dura vida sertaneja, tendo sempre presente o rio Capibaribe, como paisagem, testemunha e, até mesmo, narrador, como em O Rio.
As paisagens áridas do Nordeste brasileiro ou de Sevilha são, de certa forma, metáforas para sua própria linguagem; numa como noutra, a beleza é quase uma agonia, produto do esforço de quem vê no concreto da vida não só o que ela é, concretamente, mas também o que essa mesma concretude evoca aos olhos e ao coração do homem.
Citações
“Tinha horas em que eu via que era impossível colocar música naqueles versos, e não consegui musicar mesmo algumas partes. Teve até uma cena em que cortei alguns versos e depois o João Cabral me cobrou aquilo, perguntando se seria devido a outros problemas.”
Chico Buarque, cantor, compositor e escritor, sobre João Cabral de Melo Neto
“A literatura de João Cabral formou-se no intervalo entre a escrita culta da casa-grande, de onde ele veio, e a voz da senzala, onde descobriu a fabulação do cordel, a métrica popular, o gosto pela narrativa e pela representação de um mundo de coisas concretas, ao alcance das mãos e dos olhos”
Antonio Carlos Secchin, acadêmico, poeta, ensaísta e crítico literário, sobre João Cabral de Melo Neto
“Da poesia de João Cabral de Melo Neto se diz que é árida, de linha reta, matemática. O poeta assim a constrói: ele a lapida, lixa e põe de pé em tijolos lógicos. Quer “Dar a qualquer matéria/ a aritmética do metal.”
Luiz Guilherme Piva, economista e Doutor em Ciências Políticas, sobre João Cabral de Melo Neto
“Mestre do rigor formal e das sobreposições de imagem, produziu uma obra que exige grande concentração e raciocínio do leitor.”
Revista Época, sobre João Cabral de Melo Neto
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Acervo Estadão sobre João Cabral de Melo Neto