Sobre o autor
Se a primeira fase do Modernismo brasileiro foi marcada essencialmente por sua força destrutora com relação às correntes artísticas que a precederam, entre seus personagens proeminentes ninguém exerceu melhor esse papel do que Oswald de Andrade, um iconoclasta por natureza. Autor de manifestos, poemas, romances, peças teatrais, crônicas, ensaios e textos jornalísticos, Oswald protagonizou o movimento cultural que alterou a feição artística do país, desde o marco-fundamental da Semana de 22, e se tornou uma figura-chave para compreender os rumos socioculturais do Brasil do século XX.
Seu legado — em obras como os manifestos Poesia do Pau-Brasil e o Antropófago, o livro de poesia Pau-Brasil, o primeiro essencialmente moderno do país, entre outros — influenciou o Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Corrêa, o Cinema Novo, de Glauber Rocha, a Tropicália, capitaneada nos anos 60 por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Além disso, podem-se apontar ecos da obra oswaldiana no Concretismo dos irmãos Campos, na poesia de Drummond e na prosa de Guimarães Rosa.
Oswald de Andrade nasceu em São Paulo, em 1890, cidade onde veio a falecer em 1954, aos 64 anos. Casou-se, em 1926, com a pintora Tarsila do Amaral, que ilustrou seu primeiro livro de poemas, Pau-Brasil. Ao lado de Tarsila, fundou o Movimento Antropófago, disseminado pela Revista de Antropofagia, em que desenvolveu o conceito fundamental de seu projeto artístico para a produção de uma arte genuinamente brasileira, a partir da canibalização da cultura estrangeira. Só assim seria possível dar origem a uma expressão artística essencialmente original. Em 1929, separou-se de Tarsila e rompeu com o amigo e parceiro dos ideais modernistas da juventude, Mário de Andrade. Em 1930, apaixonado pela escritora e militante comunista Patrícia Galvão, a Pagu, com quem se casou, passou a militar nos meios operários, ingressando, em 1931, no Partido Comunista, em que permaneceu até 1945.
São desse período as obras mais marcadas ideologicamente, como o romance Serafim Ponte Grande, os dois volumes de Marco zero e a peça teatral O rei da vela. Após romper com os comunistas, retomou as ideias antropofágicas, em produções como a tese A crise da filosofia messiânica e a série de artigos A marcha das utopias, de 1953. Em 1944, mais um casamento, agora com Maria Antonieta D’Alkmin. Meses antes de sua morte, lançou o primeiro volume de suas memórias, Um homem sem profissão: sob as ordens da mamãe, que ganhou nova edição pela Companhia das Letras em 2019. Autor homenageado da FLIP de 2011, Oswald de Andrade continua a desafiar o Brasil, com a sua utopia de país, diverso, original e único.
Citações
“Um jorro de humor, ironia, sarcasmo e a síntese verbal.”
Antonio Candido, sociólogo, crítico literário e professor, sobre Oswald de Andrade
“Pela qualidade, não vejo os poemas como exercícios. Eles estão sintonizados com vários momentos da poesia, em especial os da década de 1920. Mas não sabemos a razão de não terem sido publicados.”
Luiz Schwarz, editor e presidente da Companhia das Letras, sobre Poesias reunidas (Companhia das Letras)
“Oswald de Andrade (1890-1954) não foi só figura de proa do modernismo brasileiro e um dos nossos maiores escritores e dramaturgos, autor de obras-primas como ‘Memórias sentimentais de João Miramar’ ou “O rei da vela”. Ele desenvolveu também longa e fecunda militância jornalística, colaborando com diversos veículos, na posição de cronista engajado nas principais polêmicas políticas, estéticas e culturais de sua época.”
Folha de S. Paulo, sobre Oswald de Andrade
“Na verdade, o tema da antropofagia, de uma maneira geral, passou a ocupar um espaço significativo na produção artística brasileira do período. Poetas como Torquato Neto e Waly Salomão, cineastas como Nélson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade, artistas plásticos como Glauco Rodrigues, Lygia Clark e Hélio Oiticica, diretores de teatro como José Celso Martinez Correa e, principalmente, a tropicália, repensaram e atualizaram a questão.”
Estado de Minas, sobre Oswald de Andrade
“A ideia de antropofagia é tão corrente que se diluiu. Se voltamos aos textos de Oswald, vemos que não se trata de livre associação ou devoração pela devoração. Para ele, antropofagia se trataria de uma escolha mais cuidadosa. Ele nos obriga a ler literatura de outros lugares. Temos que pensar que ele instalou outros critérios. É um autor extraordinariamente contemporâneo.”
José Miguel Wisnik, escritor, compositor, ensaísta, sobre Oswald de Andrade
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Matéria da Folha de S. Paulo Poesias reunidas (Companhia das Letras)
Depoimento de Antonio Candido na FLIP de 2011 que homenageou Oswald de Andrade