6 de fevereiro de 2023

Falamos português, português brasileiro ou brasileirês?

Em “Latim em pó”, Caetano W. Galindo oferece aos leitores um passeio ultramarino pelo idioma português e pelo Brasil.

Por Felipe Maciel

“Flor do Lácio, Sambódromo Lusamérica, latim em pó

O que quer?

O que pode esta língua?” – Caetano Veloso

A epígrafe escolhida por Caetano W. Galindo para “Latim em pó” (Companhia das Letras) aponta os caminhos que o escritor e tradutor percorre para roçar a língua de Luís de Camões e, assim, explorar todas as suas multiplicidades. Afinal, estamos falando de uma língua, muitas línguas.

Galindo assinala uma particularidade do caso brasileiro. “O Brasil numa dimensão espantosa e até assustadora, é recoberto de modo um tanto uniforme pela língua portuguesa. Mais ainda: é povoado, na mesma espantosa e assustadora dimensão, por pessoas que falam exclusivamente essa língua portuguesa.”

Na sequência, ele acrescenta que o português, de maneira complexa, faz parte da identidade de angolanos e moçambicanos na África, de timorenses na Ásia e de habitantes de outros antigos territórios coloniais de Portugal. Esses povos, porém, tendem a viver num mundo mais marcado pela presença de vários idiomas em seu cotidiano.

Voltando ao Brasil, o processo da implementação da língua portuguesa no nosso território é um drama. “O português correu, muitas vezes e durante muito tempo, o risco de desaparecer, suplantado por línguas nossas, que ao menos até o século xviii eram, em muitas situações, as mais usadas nas cidades do Norte e na vasta região dominada por São Paulo, tanto entre brancos quanto entre não brancos”, analisa o autor.

O português falado no Brasil é um mosaico, que se assemelha mais a uma colcha de retalhos do que a um monumento. De Machado de Assis a Lygia Fagundes Telles, de Alexandra Lucas Coelho a Fernando Pessoa, e também de Paulina Chiziane, Mia Couto a José Eduardo Agualusa, ela herda também um patrimônio de inúmeras gerações e, igualmente, de gerações de indígenas exterminados, além de milhões e milhões de africanos escravizados.

Neste “roçar de línguas”, Galindo convoca os leitores: é hora de tentar entender que língua é essa!


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