19 de dezembro de 2022

Jacques Fux entrelaça história e literatura em novo romance

“Herança” gira em torno de personagens ficcionais em um contexto histórico concreto de atrocidades que afetam diferentes gerações.


Por Mabi Costa

 “Herança. Epigenética. Ratos de laboratório foram treinados para temer um certo cheiro muito parecido com cerejas e amêndoas (…) Apesar de nunca ter sido exposta a esses odores, a prole sentia na pele, na carne, no olfato, toda a memória traumática. A terceira geração de ratas — nós, as “netas” — herdou essa dor (…) Eu: espelho de minha mãe e de

minha avó. Reflexos de Auschwitz.”

        O que pensa e sente alguém que sobrevive ao horror do Holocausto? Como seus descendentes são afetados pelas feridas emocionais – que jamais se fecham? Em “Herança” (Maralto), novo romance do escritor Jacques Fux, história e legado geracional são abordados por meio de três vozes de uma mesma família: a de Sarah K., nascida em Lódz, na Polônia, em 1926; a de Clara K., nascida em São Paulo, em 1949; e a de Lola K., nascida no Recife, em 1984.

        A primeira delas, Sarah, é o ponto de partida do romance. Traumatizada por tudo que viveu, a polonesa transmite às gerações posteriores um legado de silêncio quanto à própria história. Aqui, a síndrome do sobrevivente, a culpa por estar viva enquanto todos a quem amava foram brutalmente assassinados, se mistura à certeza de que, para seguir em frente, é necessário extirpar o passado.

        Cabe à Clara e à Lola compreenderem a influência da vivência da, respectivamente mãe e avó na formação do contexto familiar. Então, Lola, a neta, assume o protagonismo da busca pelos fatos, para, a partir da reconstituição histórica, revelar as próprias origens.         Resultado de seis anos de pesquisa de Fux para o pós-doutorado, o livro é baseado nos diários de crianças que estiveram em campos de concentração. A edição conta com ilustrações e projeto gráfico de Raquel Matsushita e posfácio de Christian Dunker.


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