Sobre o autor
Josué de Castro nasceu em Recife, em 1908. Formou-se em Medicina, foi professor universitário, no Brasil e no exterior, deputado federal por Pernambuco, de 1954 a 1962, e idealizador de políticas e órgãos públicos para melhorar as condições de vida da população. Embaixador em Genebra, função da qual se demitiu em 1964 em repúdio ao regime militar instalado no Brasil, foi cassado naquele mesmo ano. Presidiu o conselho da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) e lecionou na Universidade de Paris, onde morreu em 1973. Respeitado e admirado em todo o mundo, foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Entre seus clássicos, publicados em mais de 25 idiomas, estão Geografia da fome, que ganhou nova edição pela todavia, e Geopolítica da fome (Civilização Brasileira).
O autor deixou uma obra que há mais de meio século alimenta reflexões sobre o tema da fome. Em seu único romance, Homens e caranguejos (Civilização Brasileira), ele narra, em tom memorialístico e autobiográfico, a história de um menino que começa a descobrir o mundo e logo se depara com a miséria e a lama do mangue. É a descoberta da fome pelos olhos de uma criança.
Muito antes dessa investida literária, Josué de Castro já havia dado novos rumos à discussão sobre as raízes do subdesenvolvimento. Foram dezenas de estudos dedicados à fome e ao subdesenvolvimento, a começar por Geografia da fome, de 1946, considerado um divisor de águas para as pesquisas sobre o tema, tendo influenciado as formulações das políticas das grandes potências.
Já em Geopolítica da fome (1951), o tema surge como matéria política de primeira grandeza. Nele, o autor estuda as insuficiências de alimentação das populações em seu quadro geográfico e faz emergir a contradição entre os progressos alcançados na generalização dos cuidados higiênicos, acelerando o crescimento demográfico, e a deficiente distribuição de recursos alimentares. Como os verdadeiros sábios, Josué conjugou simplicidade e fluência de estilo a erudição e argumentação consistente.
Citações
“As obras de Josué tiveram o mérito de quebrar o tabu em torno do tema da fome. Provaram que ela não é uma consequência do clima do Nordeste e desmistificaram de que a fome é castigo de Deus. Ele, Josué, foi o primeiro a mostrar a fome como questão política.”
Frei Beto sobre Josué de Castro
”Pela memória e pelo coração, rejubilamo-nos por este brasileiro extraordinário que conosco lutou para fazer reinar a justiça e a solidariedade internacionais.”
Luis Echeverría Álvarez, Presidente do México, na FAO, sobre Josué de Castro
“A verdade é que a história dos homens do Nordeste me entrou muito mais pelos olhos do que pelos ouvidos. Entrou-me por dentro dos olhos ávidos de criança sob a forma destas imagens que estavam longe de serem claras e risonhas. Foi com estas sombrias imagens dos mangues e da lama que comecei a criar o mundo da minha infância. Nada eu via que não me provocasse a sensação de uma verdadeira descoberta. Foi assim que eu vi e senti formigar dentro de mim a terrível descoberta da fome. Da fome de uma população inteira escravizada à angústia de encontrar o que comer.”
Josué de Castro, em Homens e caranguejos (Civilização Brasileira)
”A Geografia da fome ficará como uma das grandes obras do após guerra, sobretudo pela metodologia. A idéia que os grandes problemas sociais – e a fome é um deles – têm que ser mapeados.”
Ignacy Sachs, Diretor de Estudos do EHESS (França) sobre Geografia da fome (todavia)
Leia mais
Artigo acadêmico de Anna Maria de Castro, filha de Josué de Castro, sobre seu pai.
Vídeo do YouTube sobre Josué de Castro
Depoimento de Rachel de Queiroz sobre Josué de Castro
Depoimento de Jorge Amado sobre Josué de Castro