30 de outubro de 2004

De Cada Amor Tu Herdarás Só o Cinismo

O cenário inicial é um show do grupo de rock R.E.M. Dino, publicitário de 46 anos, e Adelaide, a irresistível estagiária da agência, começam um caso tórrido que, aos poucos, vira uma melancólica história de amor. O livro percorre 15 semanas do affair, embalado pela trilha sonora da geração de Dino – Neil Young, Pink Floyd, Joy Division -, e muitas vezes ambientado em redutos da boemia carioca.
Dino vivia um casamento morno. A linda e ruiva Adelaide traz à tona a excitação do rock’n roll perdido. Inebriado pela moça, ele esquece que nem tudo é o que parece e que – como diz a música de Cartola, da qual foi tirada o título do livro – o mundo é um moinho.
A sensação de verossimilhança que a história provoca é reforçada pelo conhecimento que o autor tem da geografia boêmia do Rio e pelas referências ao futebol e à música, com que sempre trabalhou na imprensa. De cada amor tu herdarás só o cinismo dialoga também com o romance Um amor, de Dino Buzzati, desnudando a brincadeira metalingüística da lolita-como-gênero-literário: o homem maduro se chama Dino, como o italiano, e a garota é Adelaide, como a prostituta milanesa.

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